domingo, 19 de junho de 2011

Palavras jogadas ao léu, por Carlos Lúcio Gontijo

Não me perguntem aonde ir para encontrar leitores, pois nunca soube. As bibliotecas estão sempre vazias, as livrarias repletas de autores estrangeiros e livros de autoajuda, enquanto a literatura brasileira sobrevive com a simples e costumeira citação de grandes autores, que verdadeiramente também são muito pouco lidos. Não entendo também de busca de recursos para se editarem livros, porque nunca obtive sucesso nessa empreitada, consciente de que a política cultural brasileira só favorece aos que se acham sob os holofotes da mídia, o que determina fluxo volumoso de recursos para as mesmíssimas celebridades e famosos de sempre. Todavia, em torno desse assunto, as discussões se prendem mais ao calor obscurantista do fogaréu das vaidades que à luz da real busca de soluções.

Houve um tempo em que concursos literários lançavam novos talentos, mas hoje eles só servem para propiciar alguma pequena edição ao ganhador, o que representa significativa glória num país em que as editores não investem nem apostam em novos autores (digo isso no tocante ao ato de se fazer conhecido, uma vez que existe gente com idade avançada e sem qualquer trabalho editado), obrigando aos que pretendem tirar a sua obra da gaveta, em tempo de democrática ditadura de intensa propagação do grotesco ou, no mínimo, de valor cultural duvidoso, que por sua vez leva adultos, adolescentes e crianças a dançarem na boquinha da garrafa. Infelizmente, entre nós, o esmero tecnológico da imagem digital chegou às “nossas” televisões antes de as mesmas implantarem qualidade em sua rede de programação.

Se eu fosse tangido pela busca de fama e sucesso não estaria me movendo para editar o meu 14º livro (o romance “Quando a vez é do mar”) nem disposto a investir quantia, para mim volumosa, em meu site, que agora em junho completou seis anos. Uma vez que, hoje, o que determina notoriedade são a inventiva e o comportamento esdrúxulo ou completamente anômalo e contrário aos chamados bons costumes, tratados como desnecessários ditames ultrapassados.

A dilapidação promovida ao senso comum que norteia a convivência em sociedade vem exatamente dos órgãos que deveriam atuar em sua defesa. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário se consideram (e se põem) acima da nação brasileira, que sabiamente os julga pelo produto final que a ela é apresentado. Vem daí a generalização da reclamação popular, pois quando uma prestação de serviço não é satisfatória o consumidor recorre ao PROCON contra a loja vendedora ou a fábrica produtora, não lhe sendo exigida a indicação de nomes – ao produtor da mercadoria defeituosa cabe, se assim o desejar, a descoberta do funcionário responsável pela ocorrência! Ou seja, a má prestação de serviço advinda da ação dos Três Poderes é problema relativo a todos aqueles que o integram. Cabe a cada um deles e mais especificamente aos que se nos apresentam como a parte boa, reclamando da constante acusação generalizada, agirem em prol da devida apuração. Afinal, não se trata de seres inanimados; não são maçãs sadias enfiadas, involuntariamente, em saco de aniagem em meio a frutos putrefatos...

Em ambiente assim perverso, no qual os que deveriam dar o exemplo insistem em não dá-lo, assisto ao cotidiano crescimento da cultura do levar vantagem em tudo, que vai levando a tudo de roldão. Para onde olho eu vejo podridão: é político com dinheiro na cueca, na meia, no porta-malas, no banco do carro; são favorecimentos e desvios de recursos públicos em montante inimaginável, mas que pode ser dimensionado pela paisagem de abissais carências sociais que nos rodeia.

Quem sou eu, pequeno escriba, para perder o fio da meada, abandonar a literatura menor que realizo (mas que é a minha vida) à beira do caminho, depois de tão longa caminhada. Só me resta mesmo impor-me alguns sacrifícios em nome do invisível, do que não se vê: a energia imaterial do halo da alegria de efetivar o exercício de um dom, ainda que as palavras me pareçam jogadas ao léu.

Enfim, sou brasileiro comum. Faço parte desse povo, que apesar dos governantes e dos podres poderes, consegue sobreviver e driblar as pedras atiradas em seu caminho. Termino então repetindo reflexão de Sigmund Freud, grande explorador da alma humana: “Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.”

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

domingo, 29 de maio de 2011

ALFORJE é o novo Cd e show/cantoria de Aldy Carvalho.



ALFORJE é o novo Cd e show/cantoria de Aldy Carvalho. E já está disponível e posso recomendá-lo. No Cd são 15 músicas belíssimas que fazem bem a mente e a alma. E pode ser adquirido direto com o autor pelo email: pazink@globo.com e, através do tel: (11) 95134268 com Lenir, ou ainda para todo o Brasil, através do site da Livraria Cultura: www.livrariacultura.com.br

ALFORJE é também um SHOW inesquecível, e todos nós carregamos um alforje e nele nossas coisas, tangíveis e intangíveis, materiais e imateriais, preciosidades, significantes e significados. Na nossa jornada, seja no início ou já bem longe léguas percorridas, de partida ou de chegada, todos carregamos um alforje.

Tributo ao Cordel (por PedrO MonteirO)


 


O CORDEL tem seu espaço
Com todo o merecimento.
É poesia alinhavada
No crivo do pensamento,
Faz movimento constante,
É estrela cintilante
No alto do firmamento.

Seu berço e seus precursores,
Quando são questionados,
Alguns se arvoram dizendo
Estarem bem inteirados.
Já eu estou entre os céticos,
Se todos preceitos éticos
Estão sendo observados.

Muitos só copiam e colam,
Apenas dizendo amém.
Mas outros ficam inquietos 
E procuram ir além.
Para melhor progredir,
É importante fugir
Da decoreba também.

Ouvi mestres e doutores,
Mas não fiquei convencido.
Só os bons pesquisadores
Têm meu aval garantido,
Pois no estudo vão fundo
E depois repassam ao mundo
Todo saber recolhido.

Tenho escutado diversas
Afirmações sobre o tema.
Quando dizem: — Ele é ibérico!
Eu nunca entrei em dilema.
Compor poema e rimar,
Orar e metrificar,
Esses têm sido meu lema.

Sendo assim, essa conversa
Poderá ser resolvida,
Se balizada em estudo,
Pesquisa bem sucedida,
Das brenhas do estrangeiro
Ao Nordeste Brasileiro
E só depois, proferida.

Louvando a diversidade
Do meu berço varonil,
Sei, não devemos pôr lenha
Numa discussão senil.
O bom senso nos dirá!
Que do jeito que ele está
Tem o rosto do Brasil.

Leandro Gomes de Barros
Foi seu catalogador.
Deu nova forma às sextilhas,
Fluidez e mais vigor.
Também recebeu ajuda
De José Galdino Duda,
Da setilha introdutor.

Em constante movimento
De autorrenovação,
Por isso mesmo é flagrante
A sua evolução.
É uma bela poesia
Composta com harmonia
E muita imaginação.

É ferramenta eficaz
Na formação de leitores.
Iluminando as ideias,
Conceituando valores,
Causa um grande rebuliço
Se colocado a serviço
Dos nossos educadores.

Se você quer saber mais
Não se faça de rogado,
Nem fique na superfície
De qualquer pronunciado.
Vá fundo em sua pesquisa,
Para ter melhor baliza
No que for catalogado.

O Cordel se faz presente
No meio urbano e rural,
Sua grandeza poética
Vem galgando cabedal.
E com tanto predicado
Tem o seu nome pautado
Até na tela global.